TÃO PERTO


TÃO PERTO

por Broto Verbo


Na avenida que nos une há um edifício que nos separa.
Se ao menos o movesse para longe,
ficaríamos desimpedidos de tão distantes termos de ficar…

Mas não. Este é um edifício robusto, colossal,
alicerçado nas pantanosas chagas dos sólidos afectos
que outrora nos fundiam...
Na sua cave, fossilizaram-se mágoas e feridas errantes...
O peso deste edifício é demasiado para que o consiga,
sozinho, transladar para uma outra avenida qualquer…

Que raiva esta de tão perto estar de tudo ter e não ter nada…
Que raiva esta de tão perto estar de tudo ter,
e não ter mais do que apenas estar tão perto...


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PALAVRAS ESTÉREIS


PALAVRAS ESTÉREIS

por Broto Verbo


Só me saem palavras estéreis...

Inusitados resquícios de nadas
à espera de um qualquer predicado que lhes confira vida...



SOMBRA FUGITIVA

SOMBRA FUGITIVA
por Broto Verbo


Na imagem de nós que o espelho deveria reflectir,
apareces só.

O corpo que te abraçava há muito se ausentou.
Foi à procura da sua sombra,
que a passo longo e a galope,
se soltou da sua rédea…

Se a encontrar lhe direi
num tom trémulo de ameaça
(porque dela quero escolta),
que se me voltar a escapar,
comigo em mim não volta!

Queira ela isso não querer!
Faz-me falta que não se aparte!
Porque a sombra que de mim foge
torna-me nada em qualquer parte…



COLAR SAGRADO

COLAR SAGRADO
por Broto Verbo


E se me começasses de novo?
Do zero, virgem, imaculado...

Com que imagem, de que alma me farias?
Preferir-me-ias marioneta, boneco de barro moldável?
Que vida, que vontades me outorgarias?

Abro mão da razão se inerte me receberes…
E se amputado do meu juízo eu voltar a merecer-te,
que me transformes então num colar sagrado!

Mesmo céptico, seria crente,
na condição de não ser gente,
coabitar teu peito alado...