SANATÓRIO DOS FERROVIÁRIOS
por Broto Verbo
Numa encosta virada para a Gardunha,
sinistro se ergue, imponente, em plena Estrela.
A seus pés, a Covilhã e a Cova da Beira,
que o vislumbram, na distância, como um fantasma...
Centenas de janelas como olhos para os jardins.
Cacos de vidro na brita que se espezinha...
Sentenciado pela agonia do abandono
cruel se corrói, se mutila, e se definha...
Pérfido cheiro de águas estagnadas.
Passado que jaze no leito dos medos...
Em frente, pode mergulhar-se num poço,
onde se depositaram lágrimas e segredos...
Paredes que encerram histórias de morte...
Portas que rangem gemidos sem norte,
e uma cave obstruída por amálgamas de entulho
onde, dizem, se aconchega a morgue...
Labirínticas alas a perder de vista
entre divisões simétricas e infinitos corredores.
Escadas podres com caruncho a descoberto,
e fossos desocupados onde funcionaram elevadores.
O vazio que enche o devaneio de sombras.
Lacradas memórias, imaculadas e por desvendar...
O passo que se alarga à frente do arrepio,
e para trás, sussurros e vozes que se fazem ecoar...
1 comentário:
Você escreveu uma poesia muito comovente. Meu pai era um trabalhador ferroviário. Lembro-me de ir para o hospital muitas vezes. Mas agora as coisas mudaram. Agora, é conveniente ter um serviço privado, como amil ou outros.
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