ELECTROCUTA-ME


ELECTROCUTA-ME
por Broto Verbo

Vejo lá longe, no alto de uma serra,
um aglomerado de chapa numa aldeia perdida…
À volta de uma fogueira de labareda alta, dançam homens,
entrelaçados como uma roda dentada no esplendor da sua precisão.

Batem os pés como martelos, calcando o saibro no solo,
criando um som abafado que se ouve entre os vales desnudados,
de vegetação rasteira, afugentando raposas,
e apavorando as lebres em debandada…

Ouço o rufar de mil bigornas no ar!
Jorra o vinho no banquete que se pôs à volta da folia!
Chamamento de hostes e aficionados!
Exorcismo de uma dança sazonal,
estranha, sincopada, minimal…
Baile de cores cinza.
Monocromia em combustão.
Exército de corpos na partida de chegada alguma…

Inicia-se assim um combate feroz,
entre o tempo que da vida nos tirou,
e o tempo que nos finda no horizonte.

Electrocuta-me e ressuscita-me!

A ferrugem da máquina que pulsa no meu seio,
já se fundiu na pele quebradiça que me abraça.
Ainda sou carne, ou já sou ferro?
Corre em mim sangue, ou já é óleo?

E antes que o sol nasça e eu inche de novo,
molha-me e liga-me à corrente.
Electrocuta-me e ressuscita-me!
Quero-me de novo a sentir…


Hino do Festival de Música Industrial "Elektrocution : Resurrection"
realizado em Agosto de 2009, na aldeia de Maria Gomes
situada nas serranias de Pampilhosa da Serra

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