UM MUNDO BEM MELHOR


UM MUNDO BEM MELHOR
por Broto Verbo

Rodeiam-me corpos. Algumas das cabeças que vislumbro nos seus topos, ainda ostentam lucidez. Algumas das lúcidas têm demasiados trejeitos, mercê de traços com personalidade viciada, esculpidos por feitios incompatíveis com a minha simpatia, longe de preencherem, portanto, os meus mínimos admissíveis de aceitação.
Completamente votadas ao desvairo, corroídas pelo desgasto do tempo e das incidências do quotidiano, encontro outras: são cabeças que levam os nervos aos limites de qualquer um. De vez em quando, proferem coisas que, embora perceptíveis, são de compreensão nula. Não as suporto! Não porque não tenha capacidade de tolerância, mas sobretudo porque lhes encontro, muitas vezes, acomodação, resistência à aprendizagem e gosto pela auto-comiseração, como se o mundo fosse culpado de todos os seus percalços e infortúnios, e assim estivessem ilibadas da responsabilidade de todos os seus actos e absolvidas de todas as suas verbosidades bacocas.
As minhas cabeças preferidas são as lúcidas de lógica, claras, sem demasiadas filosofias nem adornos prosaicos de acesso restrito, sem humor excessivo, mas também sem circunspecção forçada; e ainda as cabeças vazias, vazias mesmo, sem nada para dizerem, nem sequer com sabedoria para dizerem o que quer que seja, cabeças munidas apenas de capacidades intrínsecas de darem aos seus corpos faculdades motoras. Essas sim, são as melhores cabeças de todas, verdadeiras cachimónias de eleição! A fina-flor das monas! Pese embora o trabalho que dão – as suas condições básicas não garantem, por si, um grau digno de autonomia – são também estas as cabeças que, por não opinarem, nunca põem em causa as nossas convicções e demais intenções… Acatam ordens com naturalidade, sem protesto, sem sequer perceberem que se subordinam a um certo prazer mórbido de quem, emancipando-se orgulhosamente entre os demais, exibe o rebanho de cordeiros como um verdadeiro exército de elite.
Já as cabeças brilhantes são uma turba incómoda e perigosa. As suas aptidões de retórica, os seus graus de eloquência, e os seus dotes argumentativos, impedem que, de certo modo, sejamos déspotas de uma ideia única. A qualquer momento, e numa espécie de frenesim colectivo, esta cabeças (des)coordenam-se em autênticas epopeias ideológicas, programas de cobiça de uma dimensão dantesca, planos onde os princípios se transformam em fins, cabeças dispostas em organigramas piramidais com objectivos de arrojos obscuros que - já agora acrescento - muito me orgulharia de chefiar. Por isso, e não querendo susceptibilizar gratuitamente, nem tão pouco incorrer num qualquer fundamentalismo pró-ecológico execrável - mas fazendo jus à ambição que atrás arrogo - pergunto-me se seria excessivamente provocador, apelar a uma espécie de decapitação à escala global, a degolação derradeira do Homem, deixando de novo o planeta na sua virginal condição selvagem primordial…
Num paradoxo bestial, daríamos finalmente à inteligência, o seu uso supremo, brindando o significado maior da sua existência, com a sua própria extinção…
E se de metáforas não vou além, de uma coisa, porém, desconfio estar certo: um mundo assim, seria, seguramente, um mundo bem melhor…


1 comentário:

Anónimo disse...

Tens toda a razao sem duvidas! parabens pelo teu blog! continua!!!
Hanna Tsepesh