VIVO, MAS MORTO
por Broto Verbo
Nas minhas costas carrego o dolo do meu passado,
e trago escrito na pele a história do meu destino.
Nas minhas veias turvas deambulou sangue irado,
e neste peito a saudade badalou como um sino.
Nos olhos proibi cor, viram só a preto e branco…
E desta boca a peçonha tresandou como num charco.
O teu cheiro guardei nos dedos como um troféu cintilante
e o fastio deste ventre avolumou num grande fardo.
Lanceto a carne por dentro cavando um meigo aconchego,
fazendo daí o recanto para o meu porto de abrigo.
Corro correndo a correr, vendo sem nunca alcançar
todo o meu tino que me escapa fugindo num galhofar…
Na má sina do meu fado o choro é quem mais ganha espaço.
E o tempo todo deste mundo nas minhas mãos a findar…
A cruz é mesmo tão pesada e o esforço é muito o que faço.
Vivo ou morto o que eu mais quero, é não mais cá querer ficar...
Se eu encetar este caminho, depositando na fé,
fé de que vou conseguir, por fim, o azul abraçar;
será que as portas deste céu, no alto do seu altar,
mesmo sabendo quem eu sou, assim me deixarão passar?
Acendam a chama, que pega o fogo, que fere o meu corpo,
sem alma… Vivo, mas morto.
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